As crianças têm direito a brincar todos os dias.
Na escola,
entre as aulas e ao longo delas (sempre que o professor for capaz de pôr
brincar a rimar com aprender). Em casa e ao ar livre – no quarto como num
parque – sob o olhar, discreto, dos seus pais. Brincar só ao fim de semana não
é brincar: é pôr uma agenda no lugar do coração.
As crianças têm direito a exigir o brincar como o
principal de todos as deveres.
As crianças
têm o direito a defender a primazia do brincar sobre todas as tarefas. A fórmula:
«primeiro, fazes os deveres e, depois, brincas», tão do agrado dos pais, é
proibida! Só depois do brincar vem o trabalho.
As crianças têm direito a unir brincar com aprender.
Brincar é o
“aparelho digestivo” do pensamento. Liga a imaginação com tudo o que se
aprende. Quem não brinca imita, repete, fábula falseia ou finge. Mas zanga-se,
sem redenção, com o aprender!
As crianças têm direito a não saber brincar.
Brincar é
uma sabedoria que nunca se detém: inventa-se, descobre-se, deslinda-se, desvenda-se.
Brincar é confiar: no desconhecido, no que se brinca, com quem se brinca.
Crianças sossegadinhas são brinquedos à espera dos pais para brincar.
As crianças têm direito a descobrir que os melhores
brinquedos são os pais.
Apesar
disso, têm direito a requisitar tudo o que entendam para brincar. Têm direito a
brincar com as almofadas, com caixas de cartão, com os dedos, e com tudo mais
que entendam, por mais que sejam não sejam objectos convencionados para
brincar. Tudo aquilo que não serve para brincar não presta para descobrir e com
brinquedos de mãos brinca-se de menos.
As crianças têm o direito a desarrumar todos os
brinquedos.
(e a
arrumá-los, de seguida, com um toque… pessoal). Têm direito a desmanchar os que
forem mais misteriosos, mais rezingões ou, até, os divertidos. Quando brincam,
têm direito a ter a vista na ponta dos dedos, a cheirar, a sentir, a falar, a
rir ou a chorar. Não há, por isso, brinquedos maus! A não ser aqueles que
servem para afastar as pessoas com quem se pode brincar.
As crianças têm direito a brincar para sempre!
A Infância
nunca morre: apenas adormece. E quem, crescimento fora, se desencontra do
brincar, não perceberá, jamais, que não há crianças se não houver brincar.
Eduardo Sá (Psicólogo clínico, psicanalista e professor de psicologia clínica na Universidade de Coimbra e no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em Lisboa)
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